segunda-feira, 2 de maio de 2011

Rio de Janeiro: uma selva de doenças

Então gente, eu achei um jornal que criticava as péssimas condições da capital carioca no começo do século XIX. Tive que reproduzir todo o artigo, mas valeu a pena! É de um jornal chamado "Tribuna Carioca", sua data é de 30 de janeiro de 1903, quando Rodrigues Alves já tinha assumido como presidente do Brasil e Pereira Passo, como prefeito do Rio de Janeiro. A foto também é do jornal e ilustra a cidade à época do artigo. Espero que gostem e que consigam perceber o absurdo de doenças que tomavam conta do Rio.

O DESAFIO DO PRESIDENTE RODRIGUES ALVES
Não debalde, o Rio de Janeiro é conhecido como “túmulo de imigrantes”. Sua tradicional ausência de planejamento se associa perigosamente ao descaso do governo, condenando a cidade às famigeradas infestações de doenças.
A modernização da capital nunca constou na planilha do Governo Central. O Estado assumiu o papel de mero apêndice da produção cafeeira e abandonou a sociedade à precariedade. Por conseguinte, a população urbana cresceu sem desenvolvimento correspondente da infra-estrutura. Os cortiços e as favelas se acumularam sobre os dejetos dos próprios trabalhadores. É desnecessário, portanto, apontar a quantidade de doenças que proliferam tão facilmente pelas periferias cariocas. Ratos soltos propagam a peste, enquanto a tifo, a cólera e a varíola consomem os pobres, que clamam, há muito tempo, por uma reforma sanitária.
                Como se não bastasse, em sua ânsia por agradar estrangeiros, o Estado propiciou ao povo mais uma patologia. Foi, pois, junto a navios norte-americanos que a febre amarela desembarcou no território brasileiro, onde encontrou ambiente propício para sua disseminação. Apenas no ano passado, ela já acometeu 987 civis de camadas mais baixas da sociedade carioca.
Tal quadro desesperador não é recente. Não obstante, o fato de ele ter começado finalmente a afetar os negócios e a qualidade de vida dos barões do café o colocou entre as diretrizes do novo governo. Esse comportamento hipócrita ficou claro na declaração do prefeito Pereira Passou de que o Rio tem “ruas estreitas, sobrecarregadas de um tráfego intenso, sem ventilação bastante, sem árvores purificadoras e ladeadas de prédios anti-higiênicos”. Além disso, ironicamente, o medo de estrangeiros das condições pantanosas do Brasil se tornou um dos principais argumentos do Estado para promover a reforma.
                Finalmente, as pragas da cidade infestaram a redoma da elite. O novo presidente Francisco Rodrigues Alves precisará de toda sua experiência como Conselheiro Imperial, Ministro da Fazenda e Governador de São Paulo para conduzir a modernização de forma que beneficie igualmente todos os segmentos sociais.

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