segunda-feira, 25 de abril de 2011

Para começar

         Gente, eu encontrei muito material sobre a Revolta da Vacina naquele baú. Vou postar aqui o que eu achei mais interessante, mas, primeiro, queria falar sobre o que eu penso de tudo isso. A princípio, eu achava que os rebeldes eram apenas um grupo de pobres ignorantes lutando contra a sabedoria da vacina. Não foi preciso ler muito e essa ideia foi por água abaixo. Hoje, eu daria o maior apoio aos revolucionários se pudesse estar lá, isto é, aqui há quase 107 anos.


          Simpatizo muito com a causa dos rebeldes, em primeiro lugar, porque eles não se revoltaram apenas contra uma lei que estabelecia a vacinação obrigatória. Eles se rebelaram contra as péssimas condições de vida que tinham que suportar enquanto alguns poucos enriqueciam às suas custas – situação que não mudou tanto de lá para cá.

           Com o fim da escravidão e a imigração européia, a população carioca cresceu muito num curto período de tempo naquela época. Cresceu tanto que não tinha emprego para todo mundo. Nem emprego, nem moradia. Saneamento básico, então, era algo tão inusitado que a maioria nem sabia do que se tratava. A população de baixa renda se amontoava nos cortiços do centro e vivia de bicos – carregamento e descarregamento de navios, venda de bugigangas, serviços domésticos, roubos, prostituição. Diante desse cenário, é claro que a proliferação de doenças era enorme. E as doenças eram horríveis, matavam milhares de pessoas por ano.
         Para piorar um pouco, o presidente da época, Rodrigues Alves, decidiu “civilizar” o Rio de Janeiro, porque a fama de cidade nojenta e pestilenta já repelia os navios estrangeiros. Contratou então Pereira Passos como prefeito e Oswaldo Cruz como encarregado da saúde pública para resolver esses problemas. A principal medida de Pereira Passos foi um desastre para os moradores dos cortiços. Ele simplesmente demoliu várias construções velhas do centro – entre elas, quase todos os cortiços - para construir avenidas largas, novas ruas e praças, imitando a modernização de Paris. E os moradores dos cortiços? Foram despejados, expulsos, quase todos sem qualquer tipo de indenização, devido à falta de documentação. Passaram a viver em favelas, na periferia. De uma justiça ímpar, expulsar os pobres...
             Até aí, já havia motivos suficientes para dar um golpe de Estado e transformar toda a política e economia nacionais, e eu ainda nem cheguei ao suposto motivo da revolta. Ele foi, na verdade, mais para uma gota d’água. O que aconteceu foi o seguinte: para acabar com as epidemias da capital, Oswaldo Cruz tomou uma série de medidas aparentemente corretas. Fez o possível para erradicar os transmissores da peste bubônica e da febre amarela e promoveu a vacinação contra a varíola.
           O grande problema é que quase ninguém sabia disso e ele não fez questão alguma de explicar. As pessoas que eram mais afetadas por essas campanhas – os pobres – não tinham tido educação formal e não faziam a menor ideia do que era vacina ou agente transmissor. Mas ouviram falar que seriam infectados por doenças e que havia gente jogando veneno pelas ruas. O próprio fato de a vacinação ter sido obrigatória não é muito democrático: muitos liberais julgaram que a lei era uma medida contra os direitos individuais. Tratava-se ainda de uma sociedade muito mais conservadora que a atual, e a vacinação obrigatória podia significar mulheres sendo abordadas em casa, sozinhas, por homens para serem vacinadas nos braços ou pernas. Os pais e maridos não queriam sequer ouvir falar disso. Pode parecer uma bobagem hoje, mas é uma questão de costume e de época. Se por algum motivo fosse criada uma lei obrigando todas as mulheres a serem vistas nuas por funcionários do governo, aposto que não seria muito popular, mesmo atualmente.
         Além disso, Rodrigues Alves também não contava exatamente com estabilidade política à época. A oposição era forte, embora desorganizada, e viu na insatisfação popular à flor da pele uma oportunidade para dar um golpe de Estado. Era o caso, por exemplo, de um grupo de militares que queria tomar o poder. Por mais que nenhuma corrente da oposição tenha conseguido dar golpe algum, a instabilidade política também contribuiu para a revolta. Políticos financiaram revoltosos e jornais da oposição não paravam de ridicularizar a vacinação e Oswaldo Cruz.
          Assim, penso que a Revolta da Vacina foi um movimento popular com motivos justos. É uma pena que os rebeldes não tenham conseguido mais que a revogação da lei da vacina obrigatória. Se tivessem, quem sabe não teríamos hoje um país menos desigual, menos elitista e mais justo? Afinal de contas, o que os rebeldes queriam, no fundo, era o mesmo que a maioria das revoltas populares almeja pelo mundo: uma vida um pouco mais digna.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Tudo começou com um baú...

Meu avô ainda mora na casa do meu bisavô. Eu acreditava ter descoberto todos os quartos e tranqueiras preservados naquela antiga casa, mas vi que estava errada ao encontrar um baú gasto de madeira. Cartas e reportagens deixaram clara a luta de meu bisavô na Revolta da Vacina. Uma história tão empolgante que não deveria ser conhecida só por mim. Vou construir um túnel do tempo com os posts.
Uma volta ao passado para entender o presente.




Imagem de http://bau09.blogspot.com/2008/12/ba-atividade-tpica-de-caminheiros.html