Rio de Janeiro, 11 de Fevereiro de 1904
População sofre as consequências do mal planejamento de Pereira Passos
Milhares de habitantes do centro do Rio de Janeiro são expulsos de suas moradias pelo próprio governo que diz zelar pelos seus interesses
Já passam de dois mil os civis obrigados a abandonar suas moradias para abrir mão à suposta modernização do Rio de Janeiro. O projeto, popularmente denominado Bota Abaixo, foi estabelecido pela carta Cadastral do Distrito, plano urbanístico aprovado em abril do ano passado pelo prefeito Pereira Passos, e deve permanecer em andamento pelo decorrer deste ano. Conforme suas determinações, cerca de quatrocentos edifícios antigos do centro foram demolidos; ao que tudo indica, isso é apenas uma fração do que está por vir.
O plano teve início há dois anos, quando Rodrigues Alves assumiu a presidência e, a fim de aliviar a crise econômica e social pela qual o país passava, prometeu trazer o Brasil para o novo século. Suas principais propostas eram a higienização, a modernização e o embelezamento da capital. Para isso, buscou inspiração na reforma urbana de Paris, executada no final do século XIX pelo Barão Haussmann, marcada pela substituição dos bairros operários por parques e largas avenidas. Como o engenheiro Pereira Passos já havia morado em Paris e a reforma de Haussmann lhe era familiar, o presidente nomeou-o como prefeito do Rio de Janeiro e encarregou-o de liderar a reforma pela qual a cidade passa.

Ao passo em que o prefeito se preocupa com a estética da cidade e com a opinião estrangeira a seu respeito, uma parcela significativa da população do Rio de Janeiro é colocada numa posição cada vez mais crítica. Se, antes do Bota Abaixo, habitantes do centro já enfrentavam desemprego, fome e péssimas condições de higiene e saúde, ao menos possuíam acesso a moradia, encontrada na forma de cortiços. A demolição destes por autoridades do governo e o descaso com seus habitantes está obrigando centenas de famílias a buscarem refúgio nos morros, como animais, onde constroem casebres e vivem em condições ainda mais insalubres. A higienização tão prometida por Pereira Passos será, dessa forma, benefício exclusivo das classes abastadas, como tantos outros concedidos pelo governo brasileiro.
Fontes:
http://www.cdcc.usp.br/ciencia/artigos/art_21/revoltavacina.html
http://www.cdcc.usp.br/ciencia/artigos/art_21/revoltavacina.html
http://www.super.abril.com.br/superarquivo/1994/conteudo_114370.shtml
http://www.cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252003000100032&script=sci_arttext&tlng=p
http://www.historia.abril.com.br/comportamento/conteudo_353438.shtml
Cara Laura,
ResponderExcluirEu e todos meus amigos que passamos por essa situação deplorável, que o próprio governo - que deveria melhorar nossas vidas de forma pacífica - nos impõe, ficamos muito gratos e aliviados com suas palavras de apoio!Aliviados porque - ao contrário do título de "ignorantes" que nos é dado - você mostrou ser uma pessoa muito inteligente e que estudou bastante para tomar uma posição. Por isso, se até uma pessoa "estudada" concorda conosco, quer dizer que nós realmente estamos com a razão.
Seguindo seus conselhos, a revolta aconteceu e, apesar de o pobre ainda ser tratado como lixo, pelo menos conseguimos revoga a Lei que tornava a vacinação obrigatória!